John Travolta interpreta Jack Terry, um sonoplasta de filmes de terror B que, por obra do destino, grava acidentalmente o som de um acidente de carro, que descobre ser do famoso governador George McRyan, líder nas pesquisas para ser o próximo presidente americano. É o ponto de partida de uma sucessão de acontecimentos que irão guiar Terry a desvendar esse quebra-cabeças de tom conspiratório, num crescente suspense. Travolta está ótimo no papel do protagonista paranóico e reservado, possivelmente seu melhor trabalho interpretativo até os dias de hoje ( unicamente equiparado à sua participação em Pulp Fiction de Tarantino ).
Um Tiro na Noite ( Blowout, 1981), é um daqueles filmes que ganham popularidade com o passar dos anos, até ganharem status de cult. Porém, em sua estréia, foi um enorme fracasso de bilheteria, uma verdadeira tragédia na carreira pessoal do diretor Brian De Palma e do astro John Travolta. No entanto, o filme é considerado uma das obras-primas de De Palma pela esmagadora maioria dos criticos até hoje, sendo lembrado como uma das mais belas homenagens feitas ao mestre do suspense Hitchcock.
Na minha concepção, é muito mais do que uma bela homenagem, fugindo do estereótipo clássico do suspense para se tornar um filme complexo, não em sua narrativa, mas na sua abordagem. Não se trata unicamente de um ótimo thriller, como muitos o consideram. O filme é historicamente único, essencial para quem deseja compreender um pouco do sentimento americano/anti-americano na era Reagan. Nao foi mero acaso o filme ter afundado nas bilheterias americanas em sua estréia, em 81. Precisamos entender o contexto da época: 1981 foi o primeiro ano de mandato de Ronald Reagan, presidente republicano dos Estados Unidos que assumiu num contexto de total otimismo e patriotismo renovado. Reagan, muito provávelmente, tenha sido o presidente americano que melhor soube explorar sua imagem, muitas vezes pregando uma coisa e fazendo o oposto logo a seguir, sem grandes repercussões, diferentemente de Nixon. Outro fator importante era a grande demanda pública por mais seguranca nacional, devido a uma nacão inteira ainda de ressaca pela quase interminável guerra do Vietnã.
É nesse ambiente hostil e repleto de incertezas que De Palma nos joga, brincando com seu roteiro ( no bom sentido), misturando os gêneros, provocando o senso crítico do espectador a todo momento. Ele questiona o patriotismo cego do americano comum, utilizando diversos simbolismos em momentos cruciais da trama, como no final surpreendente, cuja personagem da atriz Nancy Allen encontra-se encurralada pelo psicopata misterioso interpretado pelo ótimo John Lithgow e, como pano de fundo, a bandeira americana. Onde estaria a tão sonhada segurança? Tudo não passaria de mera ilusão ou de falsas promessas? De Palma nos brinda com questionamentos políticos profundos, sempre com sua marca registrada: sem sutilezas, mas sem perder sua sofisticação característica. O desfecho do filme, já considerada clássica, é uma cena verdadeiramente antológica, de múltiplas interpretações. Ao meu ver, de gelar o sangue.
Certa vez, Brian De Palma fez uma célebre declaração: "A câmera mente 24 vezes por segundo".
Quanto, devemos nos perguntar, nossos políticos o fazem?
Nota: 9,0
Daniel Hetzel
Um Tiro na Noite ( Blowout, 1981), é um daqueles filmes que ganham popularidade com o passar dos anos, até ganharem status de cult. Porém, em sua estréia, foi um enorme fracasso de bilheteria, uma verdadeira tragédia na carreira pessoal do diretor Brian De Palma e do astro John Travolta. No entanto, o filme é considerado uma das obras-primas de De Palma pela esmagadora maioria dos criticos até hoje, sendo lembrado como uma das mais belas homenagens feitas ao mestre do suspense Hitchcock.
Na minha concepção, é muito mais do que uma bela homenagem, fugindo do estereótipo clássico do suspense para se tornar um filme complexo, não em sua narrativa, mas na sua abordagem. Não se trata unicamente de um ótimo thriller, como muitos o consideram. O filme é historicamente único, essencial para quem deseja compreender um pouco do sentimento americano/anti-americano na era Reagan. Nao foi mero acaso o filme ter afundado nas bilheterias americanas em sua estréia, em 81. Precisamos entender o contexto da época: 1981 foi o primeiro ano de mandato de Ronald Reagan, presidente republicano dos Estados Unidos que assumiu num contexto de total otimismo e patriotismo renovado. Reagan, muito provávelmente, tenha sido o presidente americano que melhor soube explorar sua imagem, muitas vezes pregando uma coisa e fazendo o oposto logo a seguir, sem grandes repercussões, diferentemente de Nixon. Outro fator importante era a grande demanda pública por mais seguranca nacional, devido a uma nacão inteira ainda de ressaca pela quase interminável guerra do Vietnã.
É nesse ambiente hostil e repleto de incertezas que De Palma nos joga, brincando com seu roteiro ( no bom sentido), misturando os gêneros, provocando o senso crítico do espectador a todo momento. Ele questiona o patriotismo cego do americano comum, utilizando diversos simbolismos em momentos cruciais da trama, como no final surpreendente, cuja personagem da atriz Nancy Allen encontra-se encurralada pelo psicopata misterioso interpretado pelo ótimo John Lithgow e, como pano de fundo, a bandeira americana. Onde estaria a tão sonhada segurança? Tudo não passaria de mera ilusão ou de falsas promessas? De Palma nos brinda com questionamentos políticos profundos, sempre com sua marca registrada: sem sutilezas, mas sem perder sua sofisticação característica. O desfecho do filme, já considerada clássica, é uma cena verdadeiramente antológica, de múltiplas interpretações. Ao meu ver, de gelar o sangue.
Certa vez, Brian De Palma fez uma célebre declaração: "A câmera mente 24 vezes por segundo".
Quanto, devemos nos perguntar, nossos políticos o fazem?
Nota: 9,0
Daniel Hetzel